MIDNIGHT OIL | Makila Crowley

MIDNIGHT OIL • 27/04/2017

Texto: Jonathan Rodrigues Ev
Fotos: Makila Crowley

 

            O Midnight Oil passou por Curitiba no dia 27 de abril, quinta-feira, realizando uma apresentação cheia de energia. O grupo australiano, que já havia tocado na capital paranaense em 1997, iniciou uma nova turnê mundial aqui pelo Brasil, retomando as atividades após uma pausa de quase quinze anos. Ou seja, quem compareceu ao Teatro Positivo na quinta a noite, teve a oportunidade de assistir, praticamente em primeira mão, como estes “senhores” estão soando quinze anos depois.

            Importante ressaltar que esse retorno contou com todos os integrantes da formação clássica da banda, além de um sexto músico de apoio em alguns momentos, Jack Howard, mais conhecido por seu trabalho na também australiana Hunters & Collectors. Curitiba foi a terceira parada da turnê, ou quarta, se considerar o breve primeiro show da volta, que ocorreu em um pub de Sydney, ainda por cima uma apresentação surpresa. Antes de Curitiba, show completo mesmo, apenas em Porto Alegre, e outra apresentação na Austrália.

            Por ser início de turnê, ainda mais de reunião, a expectativa quanto ao repertório que seria apresentado era grande, visto que os shows anteriores tiveram músicas completamente diferentes entre si, claro, mantendo a maioria dos grandes hits. E não é que em Curitiba seria apresentado um repertório consideravelmente diferente dos anteriores, sendo essa uma das características mais interessantes da noite, esperar, literalmente, qualquer coisa no palco. Considerando os três shows completos realizados pelo Midnight Oil, mais de quarenta músicas diferentes! Não é qualquer banda que tem um empenho desses.

            Enfim, conforme o público chegava nas dependências do Teatro Positivo, conferiu, no som ambiente, diversas canções numa linha mais “classic rock”, tais como “Layla”, do Derek and the Dominos, e “Against the Wind”, do Bob Seger, até que, por volta das 21h 15m, as luzes se apagam, e começa ecoar um som meio “psicodélico espacial”, cheio de percussão, aparentemente alguma coisa típica de música aborígene.

            Cerca de cinco minutos se passaram, e finalmente o Midnight Oil adentrou o palco, iniciando a apresentação com “Bullroarer”, já mostrando “ao que vieram”, numa performance bem interessante, com o som ganhando mais vida, por assim dizer, se comparada com a versão de estúdio, graças a ótima timbragem das guitarras, e pelos backing vocals do baterista Rob Hirst, e do baixista Bones Hillman.

            Sem pausa, mandaram “Safety Chain Blues”, uma bem lado b, diga-se de passagem. E nela foi a primeira vez que o Jack Howard se juntou aos demais músicos, tocando teclado. Ele não ficaria no palco em toda a apresentação, auxiliando em “momentos estratégicos”, como nessa, ajudando a criar uma camada sonora bem peculiar, visto que além dele em um teclado, Jim Moginie assumiu outro teclado, complementados pela guitarra de Martin Rotsey. Vale ressaltar a performance do vocalista Peter Garrett, “ligado no 220V” o tempo todo, seja correndo de um lado para o outro, seja fazendo suas tradicionais dancinhas robóticas e desengonçadas, cheio de energia e carisma.

            Prosseguiram com “Now or Never Land”, com Howard tocando uma pandeireta, e novamente, com belas harmonias vocais presentes, que seriam constantes durante todo o show. Ao final dela, Garret conversaria com a plateia, falando, em “português gringo” (com a ajuda de uma colinha), que naquela noite iriam tocar músicas que falam de política e meio ambiente, sendo a deixa para “Truganini”, primeira que fez boa parte da galera levantar de seus assentos, curtindo o momento em pé. Vale mencionar os bons trabalhos nas guitarras nesse som, além da cozinha interessante formada por Hillman e Hirst. Garrett chegou a realizar um breve solo de harmônica, e no final daria um grito mais intenso, ficando perceptível o uso de efeitos no seu microfone.

            Howard se retirou, e iniciaram a belíssima “Mountains of Burma”, realmente sensacional ao vivo, ótimo teclado conduzido por Moginie, criando toda uma atmosfera densa. A propósito, a essa altura era possível perceber como a qualidade de som estava ótima, e permaneceria assim até o final do espetáculo. Cada detalhe que saiu do palco bem audível, incluindo as várias guitarras e efeitos nas pedaleiras que foram usadas por Moginie e Rotsey durante todo o concerto.

            “Shakers and Movers” seria a próxima, que contou com alguns sons pré-gravados, e no final, a banda realizou uma parada por alguns segundos, em seguida tocando o trecho final novamente, que combinado com a performance de Garrett, tornou o conjunto da coisa bem legal de se ver. Howard voltaria para “Sell My Soul”, tocando um instrumento de percussão, som esse em que os trabalhos na bateria de Hirst (e seus poderosos backing vocals), e no baixo de Hillman, se sobressaíram. Merece destaque o fato que Moginie tocou guitarra e teclado nessa canção, “quase” ao mesmo tempo. Hillman ficou no canto direito do palco, interagindo bastante com o público enquanto tocava, inclusive pedindo palmas, sendo prontamente atendido.

            Continuaram com “Only the Strong”, a mais rock n’ roll até então, com as guitarras em alto e bom som. A iluminação ficou totalmente em tons de verde, enquanto Garrett dançava e corria de um lado para o outro, de modo bem intenso, tanto que, ao final, boa parte da plateia levantou das poltronas para aplaudi-lo. Aliás, a iluminação estava muito boa durante todo o show, sempre engrandecendo o que se via no palco.

            Em seguida, ocorreria algo bem bacana. Uma “mini bateria” é colocada na frente do palco, Rob Hirst a usaria, enquanto Howard iria para a bateria principal, para assim, mandarem “When the Generals Talk”, anunciada por Garrett, em português, como uma música que fala sobre como a guerra é algo estúpido. Garrett apresenta Hirst, que cantou um trecho considerável da canção, que ficou muito boa dessa forma como foi executada, um tanto psicodélica, e sem baixo, visto que Hillman utilizou um violão. No finalzinho dela, uma pessoa jogaria uma bandeira do Brasil no palco, a qual Garrett estenderia na bateria do fundo, permanecendo ali até o final da noite.

            Mantendo essa configuração, com Hirst na frente, “Ships of Freedom”, que deu uma acalmada nos ânimos, essa que é um lado b propriamente dito. Outra que é uma belíssima canção, bem melodiosa, incrementada pelo teclado de Moginie, pelo dueto entre Garrett e Hirst, e ainda, um solo de trompete realizado por Howard. Enfim, ainda bem que a resgataram.

            Continuando com sons mais obscuros, “Luritja Way”, totalmente acústico, com três violões, comandados por Rotsey, Hillman e Moginie, que novamente alternou com o teclado. Ficou nítida certa influência de country, sobretudo por causa das harmonias vocais. No final dela, Garrett interage com o público, dizendo que agradece por esperarem vinte anos.

            Seguiram com uma execução inacreditável, de tão fantástica, de “Kosciusko”, um dos pontos altos da apresentação. Definitivamente grandiosa, pouco lembrou a gravação original. Ali, a música “ganhou força” aos poucos, começando sem bateria, com Hirst ainda na frente, dividindo o vocal principal com Garrett, enquanto Garrett cantava no mesmo microfone que Hillman. Finalmente, a “mini bateria” é removida do palco, e Hirst retornou para a principal, com o grupo encerrando o som cheio de classe.

            Depois dessa versão de “Kosciusko”, a sensação que ficou era de que o show estava se aproximando do ato final, talvez apenas mais uns três ou quatro clássicos. Felizmente não, ainda teria uma quantidade considerável a ser tocado, começando por “Arctic World”, em que a iluminação ficou totalmente azulada. Nela, Garrett cantou sentado em uma caixa de retorno, combinando com o clima mais ameno da canção.

            Prosseguiram com “Warakurna”, cujo termo “pop de qualidade”, é totalmente adequado. Parte da plateia ficou em pé, sendo que na sequência viria o ápice da noite, quatro dos maiores clássicos dos australianos, praticamente obrigando quem ainda estava sentado levantar. Inicialmente, simplesmente “The Dead Heart”, causando enorme comoção nos presentes. Nela, as guitarras foram substituídas, por violões. Legal perceber a sonoridade desenvolvida com os violões, e o teclado de Howard, e mesmo nas vezes onde Hirst usou pratos eletrônicos na sua bateria, que encaixou muito bem com os efeitos utilizados na voz de Garrett nestes trechos. No final, Howard tocou trompete.

            Mantendo esse clima de celebração (mesmo com músicas contendo letras sérias), “Beds Are Burning”, que como não poderia deixar de ser, acompanhada por um “mar de celulares” do público. Ao vivo, “Beds Are Burning” ficou bem mais “encorpada”, por assim dizer, muito, devido ao trompete de Howard. Novamente, algumas passagens eletrônicas na bateria.

Se aproximando do final, “Blue Sky Mine”, curiosamente com a iluminação toda em tons de azul, e obviamente, com Garrett tocando harmônica, criando todo aquele clima. Encerrando mesmo a primeira parte, “Forgotten Years”, onde se ouviu as guitarras “tinindo”. Assim, após esta sequência grandiosa, se retiram, depois de uma hora e meia de um show totalmente “redondinho”. Ainda teria mais.

Após se passarem aqueles tradicionais dois minutos, com gritos de “Midnight” ecoando pelo Teatro Positivo, os australianos retornaram, sem Jack Howard, que não voltaria mais, mandando “Put Down That Weapon”, totalmente conduzida pelo teclado, numa vibe mais lenta.

Terminando de forma bem mais animada, “King of the Mountain”, com efeitos interessantes na guitarra de Moginie, e Garrett descendo do palco, cantando no meio da galera das primeiras fileiras, e “Dreamworld”, com o teatro quase virando uma pista de dança. Os músicos se despedem, saindo em definitivo, após quase uma hora e cinquenta minutos de espetáculo.

Noite muito especial. Quem compareceu deverá lembrar com grande carinho do que presenciou, tanto que, por exemplo, as camisetas da turnê vendidas na “barraca do merchandising” esgotariam até o final do evento. Reuniões desse tipo que dão gosto de assistir, com a banda transbordando simpatia e, principalmente, competência. Definitivamente, parece que ensaiaram todos os dias desde o anúncio da volta, tamanha a qualidade do que foi apresentado, e a surpreendente extensão do repertório. Que essa reunião dure um bom tempo, e continue gerando frutos, pois, independente da carreira política de Peter Garrett, o público só tem a ganhar presenciando o Midnight Oil nos palcos.

 

Setlist

Bullroarer

Safety Chain Blues

Now or Never Land

Truganini

Mountains of Burma

Shakers and Movers

Sell My Soul

Only the Strong

When the Generals Talk

Ships of Freedom

Luritja Way

Kosciusko

Arctic World

Warakurna

The Dead Heart

Beds Are Burning

Blue Sky Mine

Forgotten Years

Put Down That Weapon

King of the Mountain

Dreamworld

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