KISS . Florianópolis | Makila Crowley

KISS . Florianópolis • 20/04/2015

KISS . 20/04/2015 . Devassa On Stage . Florianópolis/SC

 

Texto: Jonathan Rodrigues Ev
Fotos: Makila Crowley


No dia 20 de abril, uma segunda-feira chuvosa, o Kiss iniciou a ponta brasileira da “40th Anniversary World Tour”, em Florianópolis, no Devassa On Stage. Conforme divulgado pela organização, cerca de seis mil pessoas compareceram a esta grande festa comandada pelos veteranos mascarados.

 Fotos do show acústico no Meet & Greet antes do show.

 

           A apresentação estava marcada para começar às 21h, porém, ocorreram alguns atrasos, e o grupo pisou no palco trinta minutos depois do agendado. Mas o que realmente pode ter pesado um pouco foi o atraso na abertura dos portões, que abriram pouco mais de duas horas após o horário divulgado, deixando o público esperando na chuva, que ironicamente pararia próximo das 21h. Vale ressaltar que o Devassa On Stage é uma casa fechada, e de certo modo pequena para agrupar toda a estrutura que a banda utiliza, tornando essa, uma experiência diferenciada em termos de show do Kiss (pois quando vem para esses lados, na maioria das vezes tocam em espaços mais amplos, para dezenas de milhares de pessoas), tendo pontos positivos e negativos, que serão abordados na sequência.

            No fim das contas, estes contratempos com os horários seriam esquecidos por completo quando as luzes se apagaram e “Rock and Roll” do Led Zeppelin começou a sair nos PAs, anunciando o início do espetáculo. No final dela, os telões em cada lado do palco (fora esses, havia um no fundo do palco) exibiram imagens do Google Maps, localizando e dando um “zoom” no local do show. Algo simples, e que ficou muito legal. Na sequência, um vídeo da banda saindo de algum backstage e caminhando em direção ao palco, para finalmente a clássica intro “You wanted the best, you got the best, the hottest band in the world, Kiss!” ser pronunciada, e a cortina que escondia o palco ser derrubada, revelando os quatro mascarados.

            A celebração começa com “Detroit Rock City”, já contando com uma quantidade generosa de pirotecnia e chuva de papel picado, causando grande comoção nos presentes, que chegaram inclusive a acompanhar o solo da música com coros de “oh oh oh”. Como curiosidade, deixando mais óbvio que a casa é menor em comparação a outros lugares que o Kiss se apresenta, ao cair, a cortina que escondia o palco ficou presa no pedestal de um dos microfones, cabendo a um roadie ir correndo soltá-la.


“Creatures of the Night” e “Psycho Circus” vieram em seguida, essa última com imagens bem bacanas nos telões, com os rostos dos quatro sendo mostrados ao mesmo tempo nos momentos do refrão. Desse começo, literalmente explosivo, era notável alguns aspectos que permaneceriam até que a última nota fosse disparada: o som estava bom, todos os instrumentos bem audíveis; a casa esquentou, não tendo um momento em que se olhava para os músicos e estes não estivessem pingando suor (quando era disparada alguma chama então, vinha aquele “bafão” das lavaredas no público); e mesmo com a estrutura adaptada para o tamanho da casa, o grupo apresentaria quase todos os efeitos especiais que utiliza em locais maiores (muitas luzes, lasers, e até um globo de discoteca), defasando a apresentação o mínimo possível nesse quesito. Curiosamente, o Kiss não utiliza aquelas torres gigantescas de amplificadores (os da marca Marshall são os mais comuns) em cima do palco.

            Gene Simmons assumiu os vocais pela primeira vez na noite para executar “War Machine”, que contou com uma animação no telão ao fundo do palco, mostrando um exército de robôs com a face igual a da maquiagem dele, e claro, no final ele faz o tradicionalíssimo número de cuspir fogo, ganhando muitos aplausos. Mal ele recupera o fôlego, bebe um pouco de água, e o grupo manda a clássica “I Love It Loud”, também com Gene comandando os vocais.

            Paul Stanley volta aos vocais em “Do You Love Me?”, na qual pede, em inglês, para todos baterem palmas, onde ele é prontamente atendido, sem contar que ele praticamente nem precisou cantar o começo, pois o público fez isso para ele. Esse som ainda foi incrementado com imagens de arquivo do grupo, passando retratos de todas as fases do Kiss, além de Paul fazer vários “coraçõezinhos” com a mão para a plateia.

            “Deuce” traz Gene nos vocais novamente, sendo introduzida por Paul como um clássico do passado, com uma coreografia sensacional no final, com os três “mascarados da frente” alinhados e sincronizando seus movimentos. “Hell or Hallelujah” é a única representante dos álbuns mais recentes, Paul a introduz dizendo (em inglês) de forma bem humorada que acredita que essa música será um clássico no futuro. Clássico ou não, inegável como possuí um refrão grudento, e em todas as vezes que era dito “Hell”, umas chamas eram disparadas no fundo do palco.

 

Era a vez de Tommy Thayer tomar conta do palco e realizar um curtíssimo solo, que assim como tudo que foi feito durante todo o show, arrancou aplausos e gritos do público. Este é o primeiro número onde as limitações de espaço o reduziram consideravelmente, pois a galera não conferiu alguns efeitos pirotécnicos que normalmente são inseridos durante esse solo.

            Cabe comentar algumas críticas que os detratores da banda costumam fazer, principalmente a atual performance de Paul Stanley: sim, a voz dele não tem a mesma potência do passado, e de certa forma isso já era esperado, mas se deve destacar que ele ainda entrega uma performance cheia de energia e carisma (ele é o único a se comunicar constantemente com o público), que assim como Gene e Tommy (a propósito, é Tommy quem sola em todas as músicas, enquanto Paul faz a base, rebola e mostra suas caretas), não fica parado num mesmo local do palco por muito tempo. Aliás, usando retorno através de ponto nos ouvidos, eles se locomovem durante a execução das músicas, chegando até a cantar uma música em mais de um microfone.

            Gene Simmons com certeza merece destaque, pois sua performance (e língua!) também é única. O público conferiu suas diversas caretas em vários ângulos, inclusive lambendo o baixo algumas vezes. E assim como Paul, a voz não está com o mesmo fôlego do passado, porém isso fica apenas como mero detalhe que não comprometeu nada.

            É justamente Gene quem comanda a próxima música, “Calling Dr. Love”, numa versão um pouco mais pesada que a gravação de estúdio. “Lick It Up” veio em seguida, e confesso que inicialmente é um pouco estranho ver a banda tocar essa música fantasiada, visto que ela representa justamente o começo da era que o grupo se “desmascarou”, mas essa sensação some quando boa parte do público acompanha entusiasmadamente o refrão. Ela ainda foi “turbinada” com um trecho de “Won’t Get Fooled Again” do The Who, com direito a Paul imitando o famoso giro que Pete Townshend faz com o braço enquanto toca guitarra. Um dos muitos pontos altos da noite.

            Na sequência, as luzes diminuem e Gene Simmons começa seu solo de baixo, cheio de distorção, que termina no famoso número em que ele cospe “sangue”, levando o público ao delírio. Ele ficaria com “baba” no figurino até o final do espetáculo. “God of Thunder” é a próxima, também com estrutura reduzida, pois não havia espaço no local para Gene cantar essa faixa em cima de uma plataforma no alto, quase “voando”.

            O grupo prossegue com “Hide Your Heart”, que parece ter sido recebida com menos empolgação, provavelmente por se tratar de uma música do período menos lembrado do Kiss, quando enveredaram para o Glam Metal dos anos 80, ou simplesmente pela farofa, para os mais íntimos. Enfim, essa faixa referenciou esse período. Já “Love Gun”, é extremamente bem recebida, e antes de tocarem, Paul faz uma brincadeira com o público, pedindo (em inglês), para ao sinal dele, a plateia gritasse o nome dele, e é justamente isso que ocorre. Isso pode parecer meio deslocado, pois nesse momento, quando o local permite, ele sobe numa tirolesa e se desloca para outro local. Como o Devassa On Stage é relativamente pequeno, não foi possível colocar a tirolesa.

“Black Diamond” encerra a primeira parte do show, em grande estilo, com Eric Singer cantando as partes da canção originalmente cantadas por Peter Criss (até então ele havia realizado alguns backing vocals nos refrãos). Tanto a iluminação quanto os efeitos de fumaça utilizados nesse som remetem diretamente a época que a formação original a executava ao vivo, inclusive a forma como o Eric canta é idêntica ao Peter Criss, deixando claro que eles estão representando personagens, que são maiores que os músicos propriamente dito. No final desse número, a plataforma onde estava a bateria do Eric é levantada, criando um efeito visual muito bacana, pois ele continua tocando enquanto a bateria sobe e desce.

            Assim, os mascarados se despedem do público, para em menos de dois minutos voltarem para executar as saideiras “Shout It Out Loud”, ”I Was Made for Lovin’ You” e o hino “Rock and Roll All Nite”. Não tem o que ser comentado desse momento, pois se o clima era de uma grande festa o show inteiro, nesse finalzinho essa sensação se intensificou ainda mais. Durante “Rock and Roll All Nite”, uma enorme chuva de papel picado é iniciada, que para apenas próximo do último ato a noite, quando Paul troca de guitarra e despedaça o instrumento (é, ele não quebra a guitarra que usou no show inteiro). Novamente os músicos se despedem, ovacionados, para “God Gave Rock ‘N’ Roll to You II” ser tocada ao fundo, anunciando que este grande show chegava ao fim, após cerca de 1h e 40m. Nos telões, uma mensagem: “Kiss loves you Florianópolis!”.

            Grande espetáculo, fazendo jus a fama que o Kiss conquistou nessas quatro décadas, de sempre entregar grandes performances. Por mais que alguns efeitos tenham ficado de fora, outros reduzidos, é bom destacar que a experiência de presenciar esse show num local menor é interessantíssima, pois não é sempre que se tem oportunidade de ficar tão próximo da ação, por assim dizer. Quem já frequentou shows em grandes espaços abertos entenderá esse ponto de vista. É bom comentar como o palco do Devassa On Stage é alto para os padrões de casas fechadas, dando uma “forcinha” para quem estava mais atrás não precisar acompanhar tudo apenas pelos telões. Que tragam mais shows desse nível para Florianópolis, afinal, público parece ter.

Setlist

Detroit Rock City

Creatures of the Night

Psycho Circus

I Love It Loud
War Machine
Do You Love Me?
Deuce
Hell or Hallelujah
Solo de guitarra (Tommy Thayer)
Calling Dr. Love
Lick It Up
Solo de baixo (Gene Simmons)
God of Thunder
Hide Your Heart
Love Gun
Black Diamond
Shout It Out Loud
I Was Made for Lovin’ You
Rock and Roll All Nite

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