SLASH . FLORIANÓPOLIS | Makila Crowley

SLASH . FLORIANÓPOLIS • 22/05/2019

SLASH Feat Myles Kennedy And The Conspirators . 22/05/2019 . Stage Music Park . Florianópolis/SC
Texto: Jonathan Rodrigues Ev

Fotos: Makila Crowley


Quarta-feira, 22 de maio de 2019, Slash, com os sempre competentes Myles Kennedy & The Conspirators, desembarcaram em Florianópolis, trazendo uma boa dose de rock n’ roll. Debutando na capital catarinense, se apresentaram no Stage Music Park, que não chegou a lotar, mas teve um bom público.

            Com aquela chuva que ora estiava, ora ficava um tanto intensa, a casa abriu por volta das 18h. O evento contou com a abertura da banda paulista Republica, lá pelas 20h, que aliás, com exceção da data de Porto Alegre, acompanhará o restante da parte brasileira dessa turnê do Slash, que ao todo passará por oito cidades. Infelizmente não chegamos a tempo de fotografar e conferir a performance do grupo. A julgar pelos trabalhos de estúdio, levando em conta a pegada da banda, houve uma boa possibilidade de terem agradado o público.

            Pontualmente às 21h, as luzes se apagaram, uma curta intro começa a ecoar pelo local e, sem muita cerimônia, “direto ao ponto”, cada um dos músicos adentraram ao palco, abrindo a apresentação com “The Call of the Wild”, faixa que abre o trabalho mais recente do grupo, o “Living the Dream”, lançado em setembro do ano passado, que convenhamos, é um baita título para um álbum. A propósito, essa música é um excelente “cartão de visitas” da banda, por assim dizer, pois já deixou claro toda a vibe do grupo, e como será o restante da noite: um som melodioso, com refrão pegajoso, onde fica claro a absurda potência vocal do Myles Kennedy, no melhor dos sentidos, riffs bem feitinhos, tudo com uma certa velocidade, e batidas firmes do baterista Brent Fitz, com boas viradas, e claro, solos e solos do Slash.

            Mantendo o clima, mandaram “Halo”, também com refrão pegajoso, e um tanto grandioso, fazendo parte da galera pular junto no ritmo do som, seguida das divertidas “Standing in the Sun” e “Apocalyptic Love”, ou seja, executaram três canções do “Apocalyptic Love”, lá de 2012, em sequência.

            Prosseguiram com a sensacional “Back From Cali”, pessoalmente, um dos grandes momentos da noite, com uma belíssima levada, bem ao estilo hard rock setentista, que contou inclusive com Slash dando uns “pulinhos” enquanto tocava. O próximo ato do espetáculo contou com uma trinca de composições do “Living the Dream”, começando por “My Antidote”, outra daquelas com uma sonoridade bem característica dos trabalhos do Slash, de se ouvir um trecho e já associar ao “guitarrista da cartola”, das notas inicias ao solo, realizado com uso de efeitos nos pedais.

Interessante notar que o palco do Stage Music Park é consideravelmente mais alto do que se costuma ver em casas de shows fechadas, o que dá uma visão a mais de alguns pontos, sendo possível verificar, por exemplo, que o Slash utilizou durante o show dois grupos de pedais distintos, cada um posicionado em um ponto do palco, sem falar que havia um ventilador em uma das laterais, e volta e meia, quando ele ia solar, o vento “esvoaçava” o seu cabelo.

As próximas foram “Serve You Right”, que contou com bons backing vocals do baixista Todd Kerns, e do guitarrista base Frank Sidoris. Ao final dela, Myles saudou o público com um “e aí Floripa”, todo cheio de sotaque, e anunciou que a próxima seria “Boulevard of Broken Hearts”, que funcionou melhor ao vivo que a anterior, tendo até uma certa dramaticidade, por assim dizer, muito por causa da performance vocal de Myles, que, não custa relembrar, é um vocalista muito acima da média. Vale dizer, que ele já está com 49 anos, e a voz dele não passou nenhuma sensação de cansaço ou desgaste durante toda a apresentação, mantendo sempre um alto nível.

A essa altura, alguém que por ventura estivesse desavisado em relação à proposta dessa turnê, com certeza perguntaria sobre onde estariam “os clássicos do Guns N’ Roses”, e talvez até decepcionado, mas é justamente aí que entrou um grande ponto positivo dessa empreitada: com o recente retorno de Slash para o grupo das armas e rosas, faz muito mais sentido o Slash se juntar com sua banda solo para focar nos trabalhos produzidos para essa banda, e deixar as canções do Guns N’ Roses para tocar no próprio Guns N’ Roses. Inclusive, isso faz com que sejam duas experiências totalmente diferentes, e pessoalmente diria que essa tem um toque especial, de se ver o Slash em ação de maneira muito mais intimista, em locais menores, com uma banda afiadíssima, focado quase que exclusivamente na música, sem telões, iluminação super produzida, pirotecnias e grandes palcos de estádios.

Para não dizer que não havia nenhum aspecto visual mais trabalhado, além do pano de fundo com o logotipo do grupo, havia também uns bonequinhos de dinossauros, e outras tralhas, espalhadas sobre os amplificadores, que, aliás, continham desenhos com o contorno do Slash. O som estava ótimo, tudo audível do começo ao fim, como tem que ser. E sim, o Slash estava usando uma camiseta do Black Sabbath, e o Myles uma do Babymetal.

Voltando ao repertório, seguiram com a bonita, e até mesmo sombria, ao menos para os padrões do Slash, “Shadow Life”, que ficou muito interessante ali ao vivo. Em seguida, Myles se retirou do palco, cabendo ao Todd Kerns comandar os vocais em “We’re All Gonna Die” e “Doctor Alibi”, ambas naquele espírito meio punk meio Motörhead de ser, de certa forma com Todd lembrando a postura de palco do Duff McKagan. Em ambas o Slash fez uns backing vocals, o que não se repetiria posteriormente.

Myles retornou, para o momento “baladinha” do espetáculo, a recente “The One You Loved Is Gone”. Nela, parte da plateia interagiu, levantando celulares para iluminar, isqueiros, enquanto Slash utilizou uma guitarra de dois braços, contando com um “manjado” trecho no solo, no qual ele levanta a guitarra, a inclinando, que com certeza agradou a maioria da galera.

Em seguida, o que viria a se tornar um teste de paciência, “Wicked Stone”. Iniciada conforme o esperado, com todos mandando muito bem, até que Myles pegou uma guitarra, e vai para o fundo do palco, enquanto Slash realizou um longo, e bota longo mesmo, solo, que passou dos dez minutos. Bem, a princípio não é nada que não se queira ver em um show de um reconhecido guitarrista, mas a forma como foi feito acabou desgastando, pois a banda toda ficou o acompanhando basicamente com a mesma base. Nos primeiros minutos estava interessante, mas acabou se arrastando a ponto de ficar cansativo, e talvez pelo fato de ainda ter ao fundo as guitarras do Frank e do Myles, acabou por não tornar um número tão “cristalino”. Se tivesse uns cinco minutos a menos teria sido mais proveitoso. De qualquer forma, merece menção a excelente performance de Brent Fitz na bateria, que manteve o ritmo constante durante todo o tempo, o que cansou só de olhar.

  

Melhorando o clima, as duas últimas do “Living the Dream” que seriam mostradas (totalizando sete músicas do disco mais recente no repertório, uma quantia bem considerável), a veloz “Mind Your Manners”, onde o baixo de Todd ganhou um destaque, e “Driving Rain”, que se mostrou um ótimo som ao vivo, tomara que a mantenham no repertório de futuras turnês.

Dali para frente, uma sequência catártica de excelentes composições, proporcionando momentos para se lembrar com carinho, como “By the Sword”, numa vibe fantástica, com as guitarras construindo umas nuances meio viajadas, e claro, o impressionante vocal de Myles, com toda potência, seguida por “Nightrain”, única do Guns N’ Roses apresentada, e que obviamente levantou o público. E que som cheio de energia, com direito a Slash dando uma “corridinha” e girando no palco, tal como fazia nas décadas anteriores quando a tocava com o Guns N’ Roses, e ainda contou com ótimos solos que foram estendidos, se comparada a versão original.

Acalmando o clima, a grande balada que foi executada na noite, “Starlight”, com Slash e Myles sentados lado a lado enquanto tocavam um trecho dela, passando uma singela imagem de camaradagem entre os músicos, com a canção ganhando ares de celebração.

Encerrando a primeira parte, naquela pegada bem rock n’ roll, “You’re a Lie”, e “World on Fire”, onde Myles aproveitou para apresentar os demais músicos, logicamente com Slash sendo o mais ovacionado. Ainda agradeceu a presença do público, e chegou até a pedir aplausos para o Republica. O Slash também aproveitou para falar um pouco com a galera, agradecendo a plateia, e pedindo aplausos para o “Mr. Myles “mother fucking” Kennedy”, como ele disse. A propósito, Slash fez outro grande solo durante a “World on Fire”, com Myles chegando a ir para o fundo do palco, parando no lado da bateria, com umas baquetas em mãos, tocando uns pratos dela. No fim das contas, esse momento acabou não ficando nada cansativo.

Por fim, a banda se retirou do palco, lá pelas 23h, para quase que instantaneamente retornarem para as saideiras, mandando a certeira “Avalon”, seguida da enfim última música da noite, “Anastasia”, terminando com ares épicos, em grande estilo, por volta das 23:15. Um número com bons solos do Slash, inclusive com Myles indo novamente para o fundo do palco com uma guitarra, durante os solos do Slash. Curiosamente, ela foi tocada de forma diferente do que foi feito em turnês anteriores. Na então última passagem do grupo pelo país, em 2015, Slash utilizou a Guild Crossroads Double Neck, um modelo de guitarra com dois braços. Já dessa vez, utilizou um modelo Gibson mais tradicional.

O grupo se despediu, atirando muitas palhetas e baquetas, com o público aplaudindo. No fim das contas, a sensação que ficou foi de se ter presenciado uma grande banda em excelente forma, ficando a reflexão: quantos músicos podem dizer que tem um projeto supostamente “secundário”, esbanjando tanta qualidade? Provavelmente até que muitos, mas o Slash tem um lugar de destaque nessa lista.

 

Setlist

The Call of the Wild
Halo
Standing in the Sun
Apocalyptic Love
Back From Cali
My Antidote
Serve You Right
Boulevard of Broken Hearts
Shadow Life
We’re All Gonna Die
Doctor Alibi
The One You Loved Is Gone
Wicked Stone
Mind Your Manners
Driving Rain
By the Sword
Nightrain
Starlight
You’re a Lie
World on Fire
Avalon
Anastasia

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