HELLOWEEN . SÃO PAULO | Makila Crowley

HELLOWEEN . SÃO PAULO • 28/10/2017

HELLOWEEN – 28/10/2017 . ESPAÇO DAS AMÉRICAS . SÃO PAULO/SP

Texto: Jonathan Rodrigues Ev
Fotos: Makila Crowley


No dia 28 de outubro, sábado, finalmente a “Pumpkins United World Tour” do Helloween chegou ao Brasil, após quase um ano do anúncio da turnê, que deve ter deixado muitos sem dormir de ansiedade, afinal, era a oportunidade de conferir a formação atual reunida com Kai Hansen, e Michael Kiske. E o público correspondeu a todas as expectativas, esgotando rapidamente todos os ingressos para a data, fazendo com que um show extra fosse marcado para o dia 29 de outubro, que também lotaria, ambos no Espaço das Américas, que possui capacidade para cerca de oito mil pessoas. Posteriormente, no Brasil, o grupo ainda se apresentou em Porto Alegre, em plena noite de Halloween. Deixando o momento ainda mais especial, próximo das datas dos shows, foi anunciado que a banda gravaria os de São Paulo profissionalmente, para utilizar num vindouro DVD.

            Inicialmente, a turnê começaria por esses shows no Brasil, mas com o passar dos meses, foram anunciadas datas em dias anteriores no México, Costa Rica e Colômbia, aumentando ainda mais as expectativas, e também gerando especulações, sobre o estado de saúde de Kiske, que teve problemas na voz nos shows do México, inclusive fazendo uso de trechos pré-gravados. Bem, ao que tudo indica, em São Paulo ele estava “novo em folha”, conseguindo cantar a noite inteira sem uso desse tipo de recurso.

            Chegando ao sábado, como não poderia de deixar de ser, uma fila considerável se formou na frente do Espaço das Américas durante a tarde, até a abertura da casa, pouco antes das 19h. Adentrando o local, uma cortina cobria o palco, apenas com o nome da turnê, e a clássica abóbora do logotipo do grupo. Falando em abóboras, conforme organizado pelo fã-clube brasileiro nas redes sociais, e espalhado em alguns portais de notícias, diversas pessoas levaram balões laranja, alguns com o “rosto” de abóbora, outros com morcegos, deixando tudo com um grande clima de celebração, enquanto a apresentação não começava. E para não perder a piada, até mesmo alguns preservativos foram “enchidos”, e jogados pela galera no meio dos balões.

            Enquanto o tempo passava, o público conferiu diversos clássicos nos P.A.s da casa, indo de Metallica e Faith No More, passando por Led Zeppelin, Scorpions, e até “Highway to Hell” do AC/DC, que parte da plateia cantou junto com enorme empolgação. Finalmente, às 20h 55m, Junior Carelli, tecladista do Noturnall, e sócio da produtora Foggy Filmes, que irá produzir o DVD, subiu ao palco, dando aquelas instruções tradicionais em gravações para a plateia (concordam em ter a imagem exibida por terceiros, por ser gravação pode ser que tenham pausas maiores entre as músicas, ou mesmo tocar alguma mais de uma vez, e por aí vai). Ainda pediria para a galera gritar o mais alto que pudesse, e também aplaudisse, explicando de forma bem humorada, que em gravações nem tudo que é visto no resultado final é exatamente como aconteceu, de forma linear.

            Enfim, alguns poucos minutos se passaram, as luzes são apagadas, e a intro de “Halloween” se iniciou, ainda com as cortinas cobrindo o palco. Bastou ela ser derrubada, para que uma enorme catarse coletiva ganhasse força. Sem exageros, realmente impressionante a reação inicial do público como um todo, centenas de balões jogados de um lado para outro, muitas pessoas berrando, pulando e cantando a letra inteira, até dificultando um pouco a compreensão do que se passava no palco. Definitivamente, os alemães entraram com o “jogo ganho”.

            Como o palco a mostra, foi possível perceber toda a estrutura, que contou, além da passarela que ia até parte da pista premium, com um enorme telão atrás do grupo, que em “Halloween” exibiu animações naquele estilo de filmes clássicos de terror, sem falar da bateria de Daniel Löble, com quatro (!) bumbos, e da iluminação bem trabalhada. Posteriormente, Kiske colocaria uma bandeira do Brasil próxima da bateria. Também havia dois telões laterais, da própria casa, que durante o show apresentariam alguns problemas, como delay das filmagens exibidas em alguns instantes, e mesmo dividindo as telas com gravações das diversas câmeras sendo exibidas simultaneamente.

            Desnecessário continuar dizendo o quanto foi gratificante ver Kiske e Andi Deris cantando esse som em dueto lado a lado, podendo conferir Hansen solando, e este era apenas o começo da noite, que seguiu com “Dr. Stein”, também com os dois vocalistas dividindo a canção, sendo possível ouvir a banda com maior clareza, visto que a galera deu uma “pequena” acalmada. No telão, animação mostrando o “doutor” da letra em ação.

            Sem dúvida, os pontos altos do show seriam as músicas cantadas em dueto, onde as diferenças nos timbres das vozes dos vocalistas se encaixaram muito bem, deixando todo o espetáculo mais intenso. Por mais que Kiske seja a grande “estrela” dessa reunião, deve ser citado como Deris demonstrou uma alta performance na apresentação. Em outras palavras, canta muito esse sujeito!

            Os músicos se retiraram do palco brevemente, para no telão ser exibida uma animação apresentando as “mascotes” da turnê, Seth e Doc, num estilo “looney tunes creepy”. Apenas com Kiske nos vocais, mandaram “I’m Alive”, com ele soltando seus característicos agudos, claro, com alguns efeitos na voz, mas aparentemente sem playback. Interessante ressaltar como a banda com três guitarristas deu um “toque a mais” em alguns trechos das composições.

            Após três clássicos dos “Keepers”, Kiske se retirou, com Deris retornando para executarem a “baladinha” “If I Could Fly”, que mesmo tendo teclado apenas de forma pré-gravada, como ocorreria em outros momentos, fez “bastante sentido” ali, ao vivo, com o público cantando com Deris, além de contar com backing vocals de Sascha Gerstner.

Infelizmente, em “If I Could Fly”, o telão do centro, que exibia uma animação mostrando nuvens e o céu, começou a falhar, sendo desligado em definitivo na próxima, “Are You Metal?”, também apenas com Deris, e com teclados pré-gravados, mas com bastante peso. A falha no telão seria o maior problema da noite, e contrariando o que seria o esperado, o grupo parar o show para a produção tentar ajustar, prosseguiram assim mesmo até o final. Resta aguardar o lançamento do DVD para saber o quanto isso prejudicará o uso de imagens dessa apresentação. Menos mal que no show seguinte, no dia 29, o telão funcionou sem maiores problemas.

Deris foi o integrante que mais se comunicou com os presentes, e de forma mais carismática, quase sempre apresentando as canções que cantou, falando em que álbum foram gravadas, e fazendo alguma piada.

Com Kiske “comandando” o palco, cantou sozinho “Rise and Fall”, que contou com belas guitarras “dobradas”, por Michael Weikath e Hansen, sem falar na linha de baixo de Markus Grosskopf.

A festa seguiu com mais duas com Deris nos vocais, “Waiting for the Thunder”, que apesar de não ser uma das mais celebradas no repertório do Helloween, foi bem recebida pela plateia, que cantou junto, levantou as mãos para cima, e bateu palmas, conforme pedido pela banda, seguida de “Perfect Gentleman”, apresentada de forma sensacional, ganhando ainda mais força ao vivo, com direito a Kiske dividindo os vocais com Deris no trecho final, e a galera fazendo coros de ”perfect” com os dois. Deverá ficar muito bacana no DVD. Aliás, Deris cantou essa usando uma cartola.

Em seguida, um momento bem especial na noite, Kai Hansen comandou os vocais num medley que revisitou o início da banda, época em que ele era o vocalista, com o grupo tocando, em pouco mais de dez minutos, trechos de “Starlight”, “Ride the Sky”, e “Judas”, além de “Heavy Metal (Is the Law)” praticamente na íntegra. Foi a oportunidade do público também conferir Hansen cantando, que mostrou que não “brinca em serviço”, segurando as pontas, em alto nível. Bom ressaltar como ficou notável nesses sons de início de carreira o quanto os alemães ainda iriam evoluir sua sonoridade.

Pessoalmente, o que se seguiu seria o momento mais intenso (e quem sabe memorável) do espetáculo, ”Forever and One (Neverland)”, na qual Deris e Kiske sentaram em dois banquinhos na ponta da passarela, para mandarem a canção em dueto, acompanhados praticamente apenas pela guitarra de Gerstner, e pelos diversos celulares do público que iluminaram o Espaço das Américas. Kiske cantando uma música da era Deris, uma cena inimaginável até pouquíssimo tempo atrás.

Mantendo o clima intenso, “A Tale That Wasn’t Right”, anunciada por Kiske, em inglês, como “uma gravação de trinta anos atrás, quando possuía um longo cabelo, composta por Michael Weikath”, que contou com todos os músicos no palco, onde Kiske a cantou quase que inteiramente, e claro, fazendo as notas mais agudas, com Deris auxiliando em pequenas partes pontuais.

Prosseguiram com “I Can”, cantada por Deris, que deu uma esfriada no ritmo do show, que diminuiu ainda mais na sequência, na qual Löble realizou um breve solo, que originalmente deveria contar com uma homenagem ao falecido baterista original do grupo, Ingo Schwichtenberg, mas como o telão não estava funcionando, não foi possível, ficando aquela sensação de número incompleto.

A banda retornou, com exceção de Deris, executando o trecho inicial de “Livin’ Ain’t No Crime”, na qual ocorreu a falha de som mais grave da apresentação, onde o microfone de Kiske não funcionou nos segundos iniciais, que no fim das contas, serviu como intro para “A Little Time”, essa tocada em sua totalidade, inclusive contendo o trecho pré-gravado com sons de relógio no meio da canção. Ótimos solos de Hansen, que também se revezou nos backing vocals com Gerstner.

Na sequência, outro momento marcante, “Why?”, cantada em dueto por Deris e Kiske, e que funcionou absurdamente bem com os dois dividindo os vocais, e com Grosskopf “mandando ver” no baixo. A propósito, a temática religiosa e espiritual da letra deve agradar Kiske.

Mantendo o nível, Deris comandou sozinho dois sons velozes e lindos, “Sole Survivor”, que anunciou cometendo uma gafe, falando se tratar de uma música do “The Time of the Oath”, em vez do “Master of the Rings”, e “Power”, que nem é necessário explicar o quão poderosa ela ficou com oito mil pessoas cantando junto, só estando lá para sentir.

Entrando na reta final da noite, apesar de que ainda teria mais ou menos quarenta minutos de show, “How Many Tears”, com quase dez minutos de duração, tendo Hansen, Kiske e Deris revezando-se nos vocais, fazendo a alegria da galera, além do próprio Hansen, Weikath e Gerstner terem ficado um bom tempo na ponta da passarela lado a lado.

Os músicos se retiraram brevemente do palco, após mais de duas horas em ação. E como não poderia deixar de ser, quando Kiske retornou anunciando que a próxima era do “Keeper of the Seven Keys: Part II”, fez a plateia gritar seu nome por alguns segundos. Por fim, disse que era hora de “Eagle Fly Free”, literalmente, gerando um momento de catarse coletiva, que deve ter feito alguns fãs irem às lágrimas, afinal, até pouquíssimo tempo atrás era inimaginável presenciar Kiske a cantando, ainda mais reunido com a antiga banda.

Deris retornou, para dividir os vocais com Kiske na longa “Keeper of the Seven Keys”, que acabou tendo alguns momentos um tanto confusos. Kiske se atrapalhou em um trecho da letra, e sua voz deu fortes sinais de cansaço, coisa que não havia ficado tão visível anteriormente, nem mesmo em “Eagle Fly Free”. A produção da banda jogou umas bolas em “formato” de abóbora, que ficariam sendo rebatidas “pra lá e pra cá” até o final, inclusive para o palco.

Um a um, todos vão saindo do palco mais uma vez, enquanto Gerstner ficou em “loop” tocando o trecho final de “Keeper of the Seven Keys”. Enquanto não voltaram, parte dos presentes aproveitaram para puxar o coro de “happy happy Helloween, Helloween!”, que aliás, rolou a noite toda, desde antes do começo da apresentação.

Finalmente, naquela vibe final de festa, Hansen retornou, realizando um breve solo, executando “In the Hall of the Mountain King (Peer Gynt)”, do compositor norueguês do final do século XIX, Edvard Grieg, que serviu como aquecimento para “Future World”, cantada inteiramente por Kiske, e o público, diga-se de passagem.

Terminando de vez a “festa das abóboras”, “I Want Out”, em mais um dueto entre Kiske e Deris, e centenas de balões pra tudo que é lado, e até mesmo com Weikath e Deris colocando chapéus de abóbora. Em um trecho dela, Deris apresentou todos os outros integrantes, enquanto o grupo alterou o andamento da composição para algo próximo de um reggae. Aumentando ainda mais a zoeira, Kiske chegou a cantarolar o refrão de “White Men Do No Reggae”, que simplesmente é um som debochado do Pink Cream 69, banda que Deris fazia parte antes de o substituir no Helloween. Encerraram o som com uma grande chuva de papel picado.

Era isso. Aproximadamente duas horas e quarenta minutos de espetáculo, que valeu a espera de quase um ano. Apesar do repertório enorme, ainda sentiu-se algumas ausências, sendo a mais notável a nova “Pumpkins United”, que especulou-se que seria tocada para a gravação do DVD, já que foi criada especialmente para essa turnê. Dependendo do ”gosto do freguês”, pode-se dizer que faltou um “March of Time” e “Kids of the Century” aqui, ou “Where The Rain Grows”, “We Burn”, e “Before the War” ali. Certeza que “Mr Ego (Take Me Down)” nem foi cogitada.

No fim das contas, comparando com outros shows internacionais que ocorreram recentemente no Brasil, o preço dos ingressos não estavam tão elevados, visto a qualidade do que foi apresentado, o que deve ter colaborado para as duas noites sold out. Vale ressaltar como estava quente, principalmente próximo ao palco. Difícil imaginar como os músicos aguentaram se apresentar com casacos por tanto tempo.

Resta agora aguardar o lançamento do DVD para conferir como os problemas técnicos foram contornados. E que os alemães retornem para cá com o produto em mãos.

 

Setlist

 

Halloween (Michael Kiske & Andi Deris)
Dr. Stein (Michael Kiske & Andi Deris)

I’m Alive (Michael Kiske)
If I Could Fly (Andi Deris)
Are You Metal? (Andi Deris)
Rise and Fall (Michael Kiske)
Waiting for the Thunder (Andi Deris)
Perfect Gentleman (Michael Kiske & Andi Deris)
Starlight / Ride the Sky / Judas / Heavy Metal (Is the Law) (Kai Hansen)
Forever and One (Neverland) (Michael Kiske & Andi Deris)
A Tale That Wasn’t Right (Michael Kiske & Andi Deris)
I Can (Andi Deris)
Solo de bateria
Livin’ Ain’t No Crime / A Little Time (Michael Kiske)
Why? (Michael Kiske & Andi Deris)
Sole Survivor (Andi Deris)
Power (Andi Deris)
How Many Tears (Andi Deris, Michael Kiske & Kai Hansen)
Eagle Fly Free (Michael Kiske)
Keeper of the Seven Keys (Michael Kiske & Andi Deris)
Future World (Michael Kiske)
I Want Out (Michael Kiske & Andi Deris)

Os comentários estão desativados.