ALICE COOPER | Makila Crowley

ALICE COOPER • 23/09/2017

ALICE COOPER . 23/09/2017 . Live . Curitiba/PR
Texto: Jonathan Rodrigues Ev
Fotos: Makila Crowley

 

 

No dia 23 de setembro, sábado, quem compareceu a Live, em Curitiba, conferiu um belíssimo espetáculo, em todos os sentidos, comandado pelo veterano Alice Cooper. Cooper e banda retornaram a Curitiba após dez anos de sua última passagem pela capital paranaense.

Conforme o público adentrava as dependências do Live, observava que uma cortina escondia todo palco, contendo um desenho com os olhos do Cooper no centro, que, em vez do globo ocular, estava com desenhos de aranhas, que combinado com dois canhões de luzes iluminando apenas os olhos, criava uma atmosfera misteriosa bem interessante.

Inicialmente, o show estava marcado para começar às 23h, porém, algumas semanas antes do dia do evento, a produção alterou o horário para 22h. Eis que no dia, foi remarcado para 22h 30m.

Finalmente, por volta das 22h 20m, a faixa título do álbum mais recente de Cooper, “Paranormal”, lançado recentemente, em julho, começou a sair pelos PAs, gerando enorme expectativa. E por mais inusitado que pareça, em seguida várias faixas do álbum foram executadas em sequência, sem dúvida um modo muito peculiar de divulgar o disco novo.

Após essa audição “paranormal”, às 22h 45m, as luzes se apagam, uma intro é ecoada pela Live, marcando o início da noitada. Com belos efeitos de luzes, a cortina caiu, mostrando toda a banda já no palco, com Alice enrolado numa capa, parecendo um monstro de filme clássico de terror, para tirá-la, pegar um bastão, com o qual faria vários malabarismos, e começar a cantar.

Mandaram logo de cara “Brutal Planet”, que se mostrou ótima para abertura, por ser um som mais pesado, com as três guitarras dando “um tapa na cara”. E mesmo, com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, até diminuiu a atenção para o som em si. Afinal, não faltaram efeitos de fumaça, iluminação caprichada, sem falar da enorme decoração do palco, cheio de bonecos monstruosos, e um baú, onde ocorreriam diversos truques durante a noite. Resumindo, os ingredientes para o icônico “show de horrores” do Alice Cooper.

Literalmente sem pausa, “No More Mr. Nice Guy”, com todos os músicos agitando a galera, Cooper andando de um lado para o outro sem parar, assim como o baixista Chuck Garric (que estava com o que parecia ser uma raposa no ombro, por cima da correia do baixo, criando outro efeito bem bacana) e os guitarristas, com destaque para a bela Nita Strauss, com suas “caras e bocas”.

 

Em seguida, Cooper vai para frente do baú, de dentro dele levanta uma “assistente”, que colocou um colete nele, para então tocarem o riff inicial de “Under My Wheels”, demonstrando uma energia impressionante, principalmente Cooper, que definitivamente não aparenta ter 69 anos, tanto por toda a performance, quanto pela voz. A propósito, Cooper trocaria de colete ou casaco dessa forma (via assistente no baú) diversas vezes durante o show.

Seguiram com “Lost in America”, que teve ótimos solos de guitarra, além de tanto Chuck Garric, Nita Strauss, como os guitarristas Ryan Roxie e Tommy Henriksen realizem backing vocals, o que ocorreu com frequência durante toda a apresentação. A qualidade de som estava excelente, sendo possível ouvir com muita clareza cada detalhe, inclusive distinguir cada uma das guitarras. A essa altura da noite, estava óbvio que esse não seria “apenas mais um show”, que definitivamente seria um espetáculo muito especial.

Prosseguiram com “Pain”, uma música de uma fase menos conhecida de sua carreira, que ao vivo ganhou uma roupagem mais visceral. Nela, além de receber outra vestimenta, Cooper pegou um chicote, e ficou “brincando” com ele enquanto interpretava a canção. Merece menção a levada realizada na bateria por Glen Sobel.

Continuaram com “Billion Dollar Babies”, um dos pontos altos da noite, que começou apenas com uma guitarra fazendo o riff inicial, seguida pelas outras, construindo uma harmoniosa camada de guitarras, entrando então baixo e bateria. Chuck Garric dividiu partes dos vocais com Cooper. Mais para o meio da canção, enquanto toda a banda “desossava”, Cooper pegou uma espada, que estava cheia de notas de “dólares cooperianos”, e as jogou para a galera, mexendo a espada. E seria chover no molhado afirmar novamente o quanto a iluminação estava excelente, totalmente trabalhada com o que se passava no palco.

“The World Needs Guts”, onde Nita roubou a cena com poderosos riffs e solo grandioso, e “Woman of Mass Distraction”, com Cooper apontando para a Nita enquanto cantava “she’s a woman”, foram as próximas. Duas que não são das mais celebradas do repertório do Cooper, que acabou dando uma diminuída no ritmo do show, não que tenha ficado cansativo.

Continuando, os demais músicos deixam o palco, para a Nita realizar um número solo, extremamente técnico, contendo um trecho mais melódico, e nada cansativo, até por ter sido curto, menos de três minutos, complementado ainda com os efeitos de labaredas no palco, deixando o clima ideal para “Poison”, que veio em sequência, sem pausa, que como não poderia deixar de ser, devidamente aclamada pelo público. Uma execução impecável, que teve espaço para Cooper pedir, em inglês, para a plateia levantar as mãos, numa das poucas vezes que interagiu verbalmente com a galera. E nesse momento, Cooper estava com um figurino parecido, mas não idêntico, ao da capa do álbum “Trash”.

Seguiram com o pessoalmente foi o grande momento, ao menos musical, do show, “Halo of Flies“, numa execução de tirar o fôlego. Começando “sorrateiramente” com Glen Sobel na bateria, seguida pela entrada das três guitarras, enquanto Cooper pegou outra espada, e ficou “regendo” os músicos, até o momento da entrada da voz, onde cantou e interpretou a letra, fazendo diversos malabarismos com a espada. E sem falar na grandiosa linha de baixo que Chuck Garric fez durante toda a canção, que deve ter passado dos dez minutos, visto que teve até espaço para um breve, e preciso solo de bateria, no qual Sobel também não poupou nos malabarismos com as baquetas.

Desse ponto até o final da apresentação, a parte cênica seria o foco principal, mas vale ressaltar que a música continuaria grandiosa ali, e que de certa forma, a enorme qualidade de todos os músicos impressionou, claro, alinhado com a boa qualidade de som que se ouvia no Live.

 

Enfim, uma intro pré-gravada indicou o começo de “Feed My Frankenstein”, com Cooper voltando ao palco com um jaleco manchado de “sangue”, e com um estetoscópio. Após cantar, a primeira parte do som, dois “carrascos” trouxeram uma “máquina de choque”, no qual Cooper foi “eletrocutado”, colocando inclusive uma máscara de gás, no melhor estilo capa do “Never Say Die!”. Efeito sensacional, visto o trabalho de fumaça e iluminação, sem falar do som de eletrocussão. Tudo isso, para em seguida, um “Frankenstein gigante” adentrar o palco e correr de um lado para o outro, até interagindo com os músicos.

Entrando no “Welcome to My Nightmare”, tocaram “Cold Ethyl”, na qual Cooper dança, bate e abusa de uma boneca de pano, enquanto exibia uma faca pendurada na cintura, que seria usada na sequência, em “Only Women Bleed”, que iniciou com Cooper cantando sentado em um latão, até o momento em que uma atriz saiu do baú, caracterizado igual a boneca de pano, que realizou alguns passos de balé, até o momento em que Cooper a “esfaqueou”, tudo de forma muito grandiosa, graças também a belíssima execução de “Only Women Bleed”, que soou lindíssima ao vivo.

Sem nenhuma pausa, aos sons de sirene, emendaram “Paranoiac Personality”, única do “Paranormal” tocada ao vivo, com andamentos bem interessantes, sobretudo devido ao baixo e bateria. Cooper interpretou o “paranoico”, chegando a atirar uma faca no chão, que ficou cravada no palco. No final dela, os carrascos voltaram, colocando uma camisa de força no Cooper.

Em seguida, uma intro pré-gravada cavernosa de piano se iniciou, sendo o início de “Ballad of Dwight Fry”, com uma enfermeira macabra (maquiada com um autêntico corpse paint) adentrando o palco. Após toda uma encenação cheia de tensão, Cooper se soltou da camisa de força, tentou “assassinar” a enfermeira, porém, foi detido levando uma injeção, culminando no ápice da parte cênica do espetáculo, na qual uma guilhotina é trazida para o palco, e enquanto a banda executou um trecho de “Killer”, Cooper foi “decapitado”, num truque de ilusionismo bem convincente.

Um dos carrascos exibiu a cabeça decapitada, andando por todo o palco, enquanto a enfermeira continuou fazendo caras e bocas, e a banda então executou um trechinho de “I Love the Dead”. Insanamente divertido acompanhar todo esse trecho do espetáculo.

 

Cooper voltou, para então mandarem “I’m Eighteen”, não sem antes pegar a cabeça decapitada e a exibir mais um pouco para a plateia. Com uma muleta na mão, interpretou a canção, que ficou muito boa ao vivo, sobretudo devido as harmonias criadas pelas guitarras.

Ao final de “I’m Eighteen”, Cooper agradeceu o público, em inglês, e todos se retiraram por um breve período, para retornarem e encerrarem a noite em alto nível com “School’s Out”, numa grande catarse. Cooper voltou com uma cartola, e vestindo uma camisa da seleção brasileira, com o nome dele nas costas, e número dezoito.

Aumentando ainda mais o clima de fim de festa, efeitos com bolhas de sabão, muita fumaça, e até balões jogados sobre o público, com papel picado dentro. Cooper novamente fez malabarismos com o bastão, e estourou alguns balões com uma espada, festança de primeira ao som de “School’s Out”. Não bastasse tudo isso, teve direito a um trechinho de “Another Brick in the Wall (Part II)” do Pink Floyd, uma sacada que faz todo o sentido, visto que o produtor do “The Wall” é Bob Ezrin, que produziu diversos discos na carreira de Cooper, incluindo o “School’s Out”, e o recente “Paranormal”.

 

Cooper ainda apresentou toda a banda, e a atriz que fez a enfermeira, agradeceu a presença do público, e se despediu de um jeito bem peculiar, falando em inglês, que “vocês são paranormais, tenham pesadelos horríveis, boa noite”. Os guitarristas jogaram palhetas para a galera (o que fizeram durante toda a noite), Glen Sobel algumas baquetas, para então deixarem o palco de vez.

Dizer que foi um show memorável é falar o óbvio, uma hora e meia extremamente bem aproveitada. Para quem presenciou, candidato forte a show do ano, e olha que a “concorrência” está forte. A propósito, o público compareceu em bom número, não chegou a lotar o local, mas deixou a casa com uma boa ocupação. Sorte de quem esteve na Live, pois testemunhou o espetáculo como foi planejado para ser (único show no Brasil completo, e fora de grandes festivais, num local fechado, com todo o público tendo proximidade da banda). Que esse senhor continue por muitos anos levando seu “show de horrores” por aí, quem gosta de música feita com qualidade e autenticidade agradece.

 

Setlist

Brutal Planet
No More Mr. Nice Guy

Under My Wheels
Lost in America
Pain
Billion Dollar Babies
The World Needs Guts
Woman of Mass Distraction
Poison
Halo of Flies
Feed My Frankenstein
Cold Ethyl
Only Women Bleed
Paranoiac Personality
Ballad of Dwight Fry
Killer / I Love the Dead
I’m Eighteen
School’s Out

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